Apesar das perspetivas promissoras, a insurgência armada que começou em 2017 na província de Cabo Delgado é uma ameaça, mas a entrada de tropas estrangeiras para apoiar as forças moçambicanas em meados do ano passado melhoraram a situação de segurança.
O embaixador cessante da União Europeia em Moçambique defendeu este sábado que o gás natural de Cabo Delgado está entre as alternativas no plano da Europa de diversificar fontes de energia face às limitações provocadas pela invasão russa da Ucrânia.
“O gás de Moçambique, com a presença de grandes companhias multinacionais europeias, tem agora um valor ainda mais importante e estratégico”, declarou Sánchez-Benedito Gaspar, em entrevista à Lusa em Maputo.
Segundo o diplomata, com a invasão Russa da Ucrânia, a Europa chegou à conclusão de que “não pode confiar no parceiro antigo [a Rússia, entre os maiores exportadores de gás no mundo], que é autoritário e usa o gás como instrumento de guerra”, estando a envidar esforços para garantir fontes alternativas.
“Temos adotado uma nova estratégia na Europa, designada “RePower EU”, que tem vários elementos […] No que diz respeito ao gás, que é considerada uma energia de transição, estamos a procurar fornecedores alternativos […] Moçambique está entre as alternativas”, frisou Sánchez-Benedito Gaspar.
Embora o gás dos três projetos até agora aprovados já tenha destino, Moçambique dispõe de reservas comprovadas de mais de 180 triliões de pés cúbicos, segundo dados do Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
Apesar das perspetivas promissoras, a insurgência armada que começou em 2017 na província de Cabo Delgado é uma ameaça, mas a entrada de tropas estrangeiras para apoiar as forças moçambicanas em meados do ano passado melhoraram a situação de segurança, recuperando posições importantes, como é o caso da vila de Mocímboa da Praia.
“Foram grandes os avanços sobre o terreno. A insurgência já não tem esta capacidade de controlar permanentemente territórios-chave”, observou Sánchez-Benedito Gaspar.
Desde início de junho, novos ataques na faixa sul da província começaram a ser registados, visando pontos recônditos do distrito de Ancuabe, tendo as incursões provocado pânico também em alguns distritos próximos, nomeadamente Metuge, Mecúfi e Chiure.
Suspeita-se que as ações registadas em diferentes locais do distrito de Ancuabe sejam desencadeadas por rebeldes em fuga da ofensiva militar que está em curso desde julho de 2021, com apoio internacional.
Para o embaixador cessante da UE, apesar dos avanços, a ameaça terrorista vai continuar por algum tempo no norte de Moçambique.
“Penso que infelizmente, de forma localizada, a ameaça vai continuar. Tudo indica que algumas destas forças [rebeldes] estão misturadas com a população e que estão a chegar também terroristas de outros lugares”, afirmou Sánchez-Benedito Gaspar.
O diplomata espanhol termina a sua missão em Moçambique no final de julho e será substituído pelo embaixador italiano Antonino Maggiore.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio.